Tema e Conceito - Leila Foggitato

by 10:27 0 Pitacos



Tema: Nós e os outros.
Coleção: Sementes nativas.

Em um destes dias em que o vento leva e traz pequenas partes de muitas coisas, olhando a calçada coberta de folhas, encontrei em meio a elas uma, duas, várias ‘flores de madeira’. Olhei ao redor, procurando – aquela – que escondida entre outras usava o vento para espalhar delicadeza.

Desde sempre amei as arvores e reconheci logo nas ‘flores’ o fruto: uma curiosa nave capsula que carrega e dispersa sementes aladas, cumprindo o ritual eterno de viver e morrer. O imponente Cedro-rosa balançava ao o vento espalhando suas naves fruto-flor na incessante tentativa de perpetuar sua existência nos espaços possíveis entre calçadas, ruas, paredes, carros e gente. 

Arvores nativas como o cedro-rosa, antes em grande número foram sendo utilizadas de muitas maneiras pelo homem. Em 1974 a escritora e poeta, Maria Thereza Cavalheiro, em seu livro "Antologia Brasileira da Árvore", cita: “O cedro-rosa (Cedrela fissillis) é uma árvore bela, de grande desenvolvimento. Atinge até 30 metros de altura. Suas flores são brancas, a madeira é empregada em trabalhos de marcenaria de luxo e obras de entalhe. Muitas imagens são esculpidas em cedro. Os charutos são envolvidos em uma película finíssima de cedro, para tomar-lhe o aroma, e as caixas que os contém são confeccionadas com esta madeira. E ainda, o lenho submetido à destilação, fornece óleo”.  Tentando ampliar a vontade de saber mais - sobre  outros seres – que  se encontram no mesmo espaço em que vivemos, inspirei minha coleção no fruto-flor do Cedro-rosa como representação da vida, onde a textura rugosa são vontade e força para vencer os desafios do dia a dia e aparece representada na seda rústica tramada em tear manual. A seda transparente representa o tempo que flui a existência de todas as coisas e finalmente, as sementes trazem o simbolismo da esperança que temos de que - afinal tudo ficará bem. Estes elementos propõem um convite à reflexão sobre espaço, tempo e lugar. O lugar de todas as coisas, o tempo de olhar com cautela o modo como ocupamos os espaços e o papel dos outros seres vivos em nossa existência.